As quatro cidades que mais perderam empregos até agosto deste ano estão no Nordeste, onde Lula liderou. Entre as cidades que compõe o ranking, Bolsonaro só teve mais votos do que Lula em um município paraense e outro paulista.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) vem ressaltando em sua campanha pela reeleição dados positivos sobre recuperação do emprego. O discurso, no entanto, parece surtir pouco efeito nas cidades que mais perderam postos de trabalho neste ano: das 10 piores no ranking, 8 deram mais votos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno.

As quatro cidades que mais perderam empregos até agosto, em números absolutos, estão na região Nordeste e registram saldos negativos de mais de 2.200 postos de trabalho cada uma: Sirinhaém (PE), Capela (SE), São José da Laje (AL) e Rio Formoso (PE). Em seguida, aparecem Indianópolis (MG), Parauapebas (PA), Lucélia (SP), São Miguel dos Campos (AL), Santo Antônio dos Lopes (MA) e Campo Alegre (AL). Entre as cidades que compõe o ranking, Bolsonaro só teve mais votos do que Lula no município paraense e no paulista.

Em contrapartida, quando considerados as 10 cidades que mais abriram postos de trabalho formais no ano, o atual presidente obteve mais votos do que os demais candidatos em 6: Rio de Janeiro (47%), Brasília (51,6%), Belo Horizonte (46,6%), Curitiba (55,3%), Goiânia (56,1%) e Manaus (53,6%). Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência.

Considerando todo o território nacional, o mercado de trabalho de fato tem dado sinais de melhora –o saldo entre admissões e desligamentos é positivo em 1,853 milhão de vagas de janeiro a agosto. Mas, nas cidades que perderam mais empregos em 2022, pesa um cenário mais frágil, dizem economistas.

“Em cidades pequenas, o fechamento de vagas tem um impacto brutal. Muitos dependem do setor público para ter emprego também”, diz Sergio Firpo, pesquisador do Insper e colunista da Folha. “A mobilidade nesses locais é menor e a transição de um emprego para o outro ocorre em um intervalo maior.”

Para o especialista em mercado de trabalho Eduardo Zylberstajn, trata-se de uma observação intuitiva: onde a economia está pior, cresce a insatisfação geral, e a população busca alternativas. Mesmo não sendo possível fazer uma relação direta entre emprego e voto, ele considera que o desemprego é um fator tão relevante para a satisfação econômica que seu peso não pode ser descartado.

O economista Edgard Leonardo Lima, professor do Centro Universitário Tiradentes, vai na mesma linha. Segundo ele, a perda de trabalho em municípios de menor porte, associada ao quadro de pressão inflacionária, afeta a avaliação individual sobre a economia. Isso, diz, pode ter impactado a decisão de voto dos eleitores locais -e beneficiado Lula. “O cidadão que perdeu o emprego em uma cidade como Sirinhaém até pode ter visto que a inflação parou de subir. Mas ele também percebe que a inflação ainda está estacionada no 15º andar do prédio. Essa é a economia real. É o que o cidadão sente na hora de fazer a feira, de ir ao supermercado”, afirma.

De acordo com Lima, municípios pequenos do Nordeste apresentam menor dinamismo econômico, o que se reflete em um mercado de trabalho mais escasso. “Basta uma indústria fechar, ou uma usina parar de moer, que essas cidades deixam de oferecer empregos”, diz. “Aqui no Nordeste temos uma falta de conexão da economia entre as capitais e o interior”, completa.

O economista e professor Gustavo Casseb Pessoti, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia, avalia que a economia nordestina já vinha em dificuldades antes da pandemia. Na década passada, lembra, a atividade sentiu os reflexos de fenômenos como crises hídricas. O quadro local, acrescenta, também é marcado pelo alto nível de informalidade. “Não só o Nordeste cresce menos do que o Brasil e, portanto, gera menos emprego, como sente mais o revés de uma economia menos dinâmica”, aponta.

(DOUGLAS GAVRAS E LEONARDO VIECELI/FOLHAPRESS)

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