JUBILEU DE OURO DO MOVIMENTO SINDICAL EM ESPERANTINÓPOLIS: Uma retrospectiva a alavancar o futuro.
A década de 70 foi marcada
por grandes feitos, sejam eles heroicos, despóticos e ousados. Importa-se que
nesta época efervesciam conflitos agrários que veementemente se apresentavam:
fazendeiros que possuíam muitas terras começaram a invadir as pequenas cidades
interioranas do Estado do Maranhão - como Esperantinópolis – e apossando-se das
pequenas terras dos produtores rurais, forjando falsos documentos a
apresentar-se como titulares das terras.
Grandes e poderosos
latifundiários começaram a erguer-se socialmente com estes golpes acima dos
agricultores rurais, chegavam, altercavam, erigiam contendas, ocasionando
momentos de uma “ditadura” reprimindo, frustrando e injustiçando os menos
favorecidos. Nestes embates, consagraram-se mártires da terra na luta dos
conflitos agrários que deram a sua vida no embate pelos seus direitos os
camponeses Enéias, Badu e Doroteu, homens que se sacrificaram para que os
outros campônios pudessem bradar e juntar-se a “guerrearem” pelos seus
direitos.
Com o constante apoio
fraudulento das autoridades tiranas da época, os latifundiários colossais
conseguiram grilar grandes terras, com qualidades avantajadas no município de
Esperantinópolis, deixando famílias desprezadas, sem terem para onde irem,
ficando marginalizadas – mais ainda, em um supremo nível de pobreza extrema,
sem forma alguma de sobrevivência no campo.
Logo após esta tomada de
terras das mãos dos pequenos agricultores, os nefastos senhores das terras e do
poderio começaram a concentrar em suas mãos exorbitantes terras, transformando
o vasto território em grandes pastagens de animais, devastando toda a flora
esperantinopense, que até então eram grandes propriedades de matas virgens,
havendo também desordenadas e constantes queimadas, ocasionando grandes
degradações ao solo até os presentes dias.
Por meados de 1972, mais
precisamente em 19 de abril do mesmo ano, aconteceu a primeira reunião de organização
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Igreja Católica do Povoado Jenipapo,
justamente tendo São Francisco como padroeiro – jovem simples, que despojou-se
de toda riqueza para viver com os pobres – o momento foi de grande tensão,
cochichos e escuro, à portas fechadas por medos dos grileiros que enviavam
capatazes a espionarem, temendo uma rebelião camponesa.
Padre Raimundo Jorge de Mello
impulsionou, encorajou, dançou com o povo e lhe deu palavras de ânimo e fé para
uma organização sindical que favorecesse a defesa dos trabalhadores e de seus
direitos no meio social.
Em face disto, padre Jorge
abriu as portas da Igreja para o que o povo sentisse mais próximo de seu
criador - que não queria que nenhum de seus filhos fossem oprimidos por grandes
fazendeiros – assim sendo, datado de 07 de maio de 1972, no salão paroquial da
antiga Igreja Católica, 74 trabalhadores rurais lavraram a ata de fundação do
Sindicato Dos Trabalhadores Rurais De Esperantinópolis.
De início participavam do
sindicato apenas homens, com o passar do tempo, da evolução dos dias, e por
incentivo de Padre Jorge, mulheres e jovens começaram também a participar desta
luta sindical. Num primeiro momento,
muitas dificuldades surgiram, mas Padre Raimundo Jorge de Mello continuou do
lado do sindicato, como um afável pai ao lado de seu filho.
Latifundiários grileiros,
políticos, juízes e grandes autoridades se opuseram a este movimento, até mesmo
alguns agricultores cotejaram a associação a este novo movimento sindicato,
caluniaram, impugnaram este o sindicalismo e relacionaram manipulação dos
trabalhadores à esta nova organização.
Assim, instituído em um
solo conflituoso, na luta por uma divisão equinânime de terras para os
camponeses, erguendo a bandeira da Reforma Agraria, o sindicato foi instituído
na defesa dos trabalhadores rurais e da agricultura familiar, que muito sofria
por não estar organizada, demandando autonomia e uma eficaz democracia aos seus
membros, diretores e associados.
Com toda esta organização
sindical partindo da Igreja na pessoa de Padre Jorge, o sindicato caminhou,
criou caminhos e começou a ter visibilidade sendo abarcado pelas políticas
públicas, plenificando uma participação efetiva e organizada aos trabalhadores
no meio social.
De 1972 para cá muita
coisa aconteceu na militância sindical, após a formação, criação e organização
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperantinópolis. Em uma bela união, o
povo deu-se as mãos a congregar-se em um único espaço de duelo pela efetivação
dos seus direitos. Pela materialização do movimento sindical, roupou-se a
valorosa arma de luta no meio social, prefigurando-se como um instrumento de
ação politica dos menos favorecidos.
Ainda, pode-se memorar que
o Maranhão vivia o Lema “Maranhão Novo” passando as terras devolutas ocupadas
pelos camponeses ao grande latifúndio com amparo da Lei Sarney de Terras de
1969 e nesse contexto emergiu a resistência do Homem do Campo pela defesa da
Terra. Dá-se destaque com grande importância que o Sindicato nasceu como órgão
de defesa e proteção da Terra como um Marco na década de 1970 a titularizacao
das terras pelo INCRA e vitória dos trabalhadores rurais, desde então o Sindicato
tem abrangido suas bandeiras de luta, na política Agrícola, com grande atuação
no PRONAF, Política Agrária no fortalecimento das áreas de Assentamento da
Reforma Agrária, na Educação do Campo, com a árdua participação no Pronera, com
os programas de habitação Rural, criação de associações de trabalhadores
rurais, reflorestamento de áreas degradadas com o programa PDA, na busca dos
direitos previdenciários como salário maternidade, Aposentadoria, pensão e
auxílios doença.
Neste meio tempo de
empoderamento em que o Sindicato esteve ao lado, situa-se a exemplar com os
seguintes serviços ofertados pelo movimento sindical, favorecendo o
soerguimento e a equidade: Aposentadoria
por Idade Rural; Aposentadoria por Invalidez ; Auxilio Doença; Salario
Maternidade Rural; Pensão Rural; Desbloqueio e desbloqueio para empréstimo
consignado; Atualização de dados cadastrais; Inscrição
na Previdência social; Cadastramento e
Renovação de procuração de beneficiários; Ligações periódicas a central de
atendimento do INSS (135); Viagens a
Agencia da Previdência Social de Pedreiras; Protocolo de requerimentos de
benefícios via plataforma (MEU INSS); Preenchimento de Autodeclaração do
Trabalhador Rural, e tantas outras atividades.
Sendo assim, ao longo
deste jubileu de ouro, em 50 anos, o Sindicato Dos Trabalhadores Rurais
Agricultores e Agricultoras Familiares de Esperantinópolis batalhou e obteve um
conjunto de conquistas para a classe trabalhadora, com muita luta e resistência
na base lutando para que a Agricultura Familiar seja efetivada em todos os
sentidos, porém, o cenário imposto pelo
agronegócio vem desafiando os Movimentos Sociais e gerando um cenário de
incertezas e desafios constantes, fazendo-se necessário que cada sujeito do campo
homens, mulheres, jovens, idosos e crianças se empoderem e façam a sua parte
para que se possa ter um campo digno para se viver, tendo acesso a Educação do
Campo pública, de qualidade e gratuita, Políticas de Assistência à Saúde,
Assistência Técnica diferenciada e eficiente, Soberania e Segurança Alimentar e
Nutricional, Meio Ambiente e ampliação das oportunidades de emprego, trabalho e
renda com igualdade de gênero, geração, raça e etnia.
Neste sentido, o STTR de
Esperantinópolis, nos dias atuais permanece e permanecerá na luta em defesa e
organização da classe trabalhadora, almejando dias frutíferos – mais
ainda, sendo este movimento sindical
referencia no que concerne ao empoderamento de nossos trabalhadores.
Observa-se ainda, que a
presente gestão deste movimento, são filhos de mulheres lavradoras, e que não perderam as suas raízes, que desde a
infância, assistiram, participaram e hoje colaboraram com o bem estar e o
soerguimento sindical. Até aqui, registra-se
ainda a presença e a colaboração de todos os sindicalistas e membros da sociedade
civil, em que com muita garra colaborou no nascimento e organização do STTR.
Ademais, o momento é uma
eterna gratidão, a todas as lideranças, jovens, crianças, idosos, homens e
mulheres, que se fizeram presença, que se dedicaram a organização deste
movimento sindical na cidade de Esperantinópolis, sendo uma ferramenta de
crescimento e luta pelos direitos!
RAIMUNDO JORGE DE
MELLO
Pouco se sabe sobre a biografia e o trajeto histórico de Padre
Raimundo Jorge de Melo – irmão Raimundo ou Padre Jorge, como era comumente
conhecido pelos esperantinopenses em sua passagem pela cidade da esperança –
mas o mínimo que se sabe, concebe-se uma visão heroica, pujante e
revolucionária da pessoa de Padre Jorge.
Raimundo Jorge de Mello nasceu em 04 de junho de 1942 na cidade
de Grajaú, estado do Maranhão, filho
do coletor José Vieira de Mello e de Maura Jorge de Mello. Falecido em 11 de
março de 2018, ás 03h, no Hospital UDI, em São Luís-MA.
Foi o primeiro pároco da cidade de Esperantinópolis após a
deixada dos frades e freiras capuchinhos, nomeado pelo então Bispo Pascásio
Rettler – grande missionário popular, assumindo a então criada diocese de Bacabal
em 24 de julho de 1968 e renunciando a cátedra em 12 de
fevereiro de 1989, por limite de idade.
Pensa-se que Padre Jorge herdou de Dom Pascásio a sua vitalidade
e pujança na missão evangelizadora de uma forma inovadora.
Segundo registros históricos, Franciscos e Claras - ajudaram a
construir a devoção, religiosidade e fizeram-se presentes até a emancipação da
cidade de Esperantinópolis desde a década de 1920 até os presentes dias.
Com o encerramento das atividades dos
frades capuchinhos na década de 1960, pela criação da nova diocese, a qual a
cidade de Esperantinópolis que fazia parte da Prelazia de Grajaú e que passa a
ser da Diocese de Bacabal, o ressoar das santas badaladas e das virtudes
franciscanas, dissolvem-se em meio a uma cidade em evolução, que tangiam os
quatro cantos da cidade, dando espaço a chegada de um novo pastor – e que
pastor, um bom pastor!
Com este desmembramento, vislumbrou-se
novos tempos, uma nova eclesialidade e forma de evangelização em que se fez
presente o acompanhamento de um pastor afável e inovador.
À medida em que a Igreja Católica renovava-se com o Concilio
Vaticano II, que faz uma opção a caminhar junto as dores do povo, padre Jorge
aparece na cidade de Esperantinópolis, cidade em construção. Com vitalidade e
espirito jovem, à paisana sem a veste clerical que o impunha autoridade, com um
jeito cativante e novo de ser igreja ao lado do povo.
Nisso, Padre Jorge dançou nas rodas, brincou com as crianças,
lutou com o povo em defesa do pobre, abriu as portas da Igreja á comunidade,
cantou com a comunidade, abriu espaços, e cativou corações deixando marcas e
rastros de sua vida dedicada ao reino.
PADRE JORGE,
EM ESPERANTINÓPOLIS
João Israel
da Silva Azevedo
Ó Padre Jorge
lutador,
Amigo do povo
sofredor,
Militante do amor,
Da sensatez e
do labor,
Que em tuas
veias
Pulsava a
justiça
Com grande
fervor!
Fostes um
grande pai,
Amigo e
benquisto
da pobreza,
junto
aos menos
favorecidos,
e agora ,
coroado na
glória
estais a nos
olhar
e a nos
impulsionar
a viver, e a
esperançar!
E em teu
sacerdócio,
Nos
apresentastes
Um Deus
verdadeiro,
Um Deus
libertador,
Que muito nos
apresenta,
A justiça, a vida, o amor!
Padre
Jorge, de Esperantinópolis
Visitamos o
Jardim,
mas lá não estavas!
E vimos que o
amor ressuscita!
E como
viveste de amor,
a vida toda
amor,
uma taça,
que a festa
viver te encheu
de um bom vinho,
somente
encontramos a toalha alvíssima
que a Maria
teceu para ti!
Como,
Raimundo Jorge, partilhaste
o ser feliz por teres
percorrido,
quantos caminhos!
De sorrisos
dados,
quantas
saudações!
E apertos de
mãos!..
A fé
transubstanciando a alegria
canto e dança,
do povo a doce esperança
da terra aos
pés livres lavradores!
Teu
sacerdócio, de afável ofício,
revelou-nos
“Deus Amor”
em ceia, o
bom sabor
de uma
celebração feliz!
De linguagem
lúcida da comunhão!
Por que
eternamente vives,
Padre Jorge
do Povo,
do evangélico
alívio
que aos
pobres dá a festa
em roda
tambor-base,
Comunidade!
Com Saudades de
Raimundo e Gracinha.
15 de março de 2018
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