Triste realidade das nossas câmaras de vereadores
Já que
começamos a falar da função do vereador há uns dias atrás, acho que vale a pena
discorrer mais sobre esse assunto. Analisando os fatos políticos de nossa
região, nos deparamos com uma realidade política temerária: a subserviência dos
poderes legislativos municipais aos chefes de executivo de plantão no momento.
Quando a Constituição Federal impõe o papel dos legislativos, dá ao vereador a
função de fiscalizar os atos do poder executivo e legislar (fazer leis, normas
e regras que organizam a sociedade, estabelecem garantias e direitos e impõem
obrigações, com as devidas previsões de punições para os desrespeitos que acaso
possam ocorrer ao estabelecido). A mesma Constituição recomenda harmonia entre
os poderes.
Esse papel
legiferante normalmente é limitado pelo próprio desconhecimento do vereador da
função que tem; e como ex-vereador que sou, reconheço também que pela escassez
de recursos, falta assessoria técnica nas Câmara Municipais para prover o
vereador dos conhecimentos necessários para legislar. Mas, a falta de vontade e
compromisso com as obrigações da função fala mais alto, pois há como driblar
essas limitações; por experiência própria posso afirmar isso. Já o papel fiscalizador,
esse sim é que é o problema, pois na atual realidade tudo conspira e se une
para que essa função exponencial seja omitida e assim se configura o pior dos
crimes de responsabilidade da edilidade.
O vereador
é o pára-choque da classe política. Os prefeitos, os deputados, os senadores e
os governadores são quase inacessíveis à abordagem popular por razões inerentes
às funções que exercem, mas o vereador não pode nem tem como se esconder do
povo e é abordado e cobrado a todo o momento para fazer de tudo, desde pagar a
dose de cachaça no boteco da esquina até construir a ponte que falta no bairro
ou povoado. E muito do que se cobra dele não é de sua obrigação, mas do
prefeito. E o vereador consome o seu mandato em realizar favores e mais favores
que exigem muito dinheiro e, condicionando esses favores ao voto, imagina assim
se viabilizar para a reeleição. E como o executivo tem mais recursos, precisa
da ajuda do prefeito para custear esses favores, empregar seus apanigüados e
receber e oferecer outras benesses mais. Portanto, precisa ser aliado do
prefeito e termina se cegando ao que deveria ver e apontar como erro e se omite
completamente de seu papel fiscalizador. Juntando tudo isso com a má fé de
alguns chefes de executivo, está formada a circunstância perfeita de conivência
e omissão para acontecer toda espécie possível de crime na gestão pública, com
a população saindo sempre como a maior prejudicada.
Assim, a harmonia entre os poderes recomendada pela
Constituição Federal transforma-se em submissão. Legislativos de cócoras
perante os executivos, câmaras de joelhos perante as prefeituras e vereadores
curvados diante dos prefeitos a mendigar migalhas. De grande e principal espaço
para o debate, discussão e solução dos problemas da sociedade, as Câmaras
Municipais hoje não passam, em sua maioria, de meros órgãos cartoriais
homologadores da vontade dos chefes dos executivos municipais. Lamentável.
Mesmo sendo
o pára-choque da classe política, o vereador é dessa classe a categoria mais
desvalorizada. Só tem mesmo valor e é lembrado pelos detentores de cargos eletivos
mais elevados quando é para eleger os deputados. Aí, sim, o vereador vale ouro,
pois se transforma em verdadeiro cabo eleitoral de luxo. De tanto precisar do
prefeito, torna-se enfadonho e chato ao alcaide e aos seus auxiliares diretos e
com isso perde valor e respeito, pois a dependência vai se avolumando e ele
fica refém das migalhas do executivo. Soma-se a isso uma dificuldade enorme de
união e organização da categoria para a defesa de seus interesses políticos de
elevada estatura e valorização de seu papel. E tudo isso resulta e justifica a
atual situação de desmoralização da função e da figura do vereador, que é um
elemento importantíssimo e exponencial da classe política.
A situação
é tão grave que uma pesquisa realizada pela União de Vereadores do Brasil - UVB
em várias cidades brasileiras de pequeno e médio porte, perguntou à população
que repartição preferia que fosse fechada, se a Câmara Municipal ou a quitanda
da esquina. E mais de setenta por cento da população pesquisada preferiu que
fosse fechada a Câmara de Vereadores.
Mas de quem
é a culpa? Será que só o vereador é culpado dessa situação? Imagino que não
somente ele. A população é a principal responsável, pois a composição de cada
Câmara Municipal é a expressão exata da população que representa, e analisando desta
forma se conclui que se existem maus vereadores é porque existem maus
eleitores. O povo é que tem que escolher com mais cuidado os seus
representantes, já que nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional não
é tão diferente. Tem que acabar com essa história do povo eleger candidato que
quer somente ter um bom salário sem dar expediente e garantir um status que lhe
possibilite barganhar vantagens pessoais em troca da omissão de sua função
principal.
Portanto,
nossa gente tem que escolher melhor entre os três tipos de vereadores
existentes, que são o vereador, o variador e o viriador. O primeiro é aquele
que legisla e fiscaliza com responsabilidade e independência; o segundo é
aquele que varia politicamente de um lado para o outro conforme sua
conveniência pessoal e política do momento e o terceiro tipo é aquele que não
desgruda da virilha do prefeito.
Allan Roberto Costa Silva, médico, ex-presidente da Câmara
Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense de Letras e da
Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras. E-mails: arcs.rob@hotmail.com e/ou allanrcs@bol.com.br
Comentários do Blogger
4 Comentários
Parabéns DR,mas todos nós temos um pouco de culpa neste circulo vicioso,elegemos políticos que vivem da politica,que não teem nenhuma fonte de renda alternativa, independente para que possa ter moral na hora de tomar decisões e suas eleições são compradas,passando os anos subsequentes a tentar saldar suas dívidas .Outro fato notório no que concerne ao papel principal,o de fiscalizar....PELO AMOR DE DEUS,QUAL A NOÇÃO QUE A MAIORiA DOS VEREADORES TEEM,SOBRE CONTAS PÚBLICAS,não sabem nem sobre crimes que incorrem sobre sua falta de responsabilidade,quanto a aprovação das mesmas...para tanto aponto uma solução,que no momento da aprovação das mesmas , seja contratada empresas de auditoria que realmente venha a respaldar o papel de fiscalizador,que assuma tal responsabilidade inexistente!
ResponderExcluirParabéns DR,mas todos nós temos um pouco de culpa neste circulo vicioso,elegemos políticos que vivem da politica,que não teem nenhuma fonte de renda alternativa, independente para que possa ter moral na hora de tomar decisões e suas eleições são compradas,passando os anos subsequentes a tentar saldar suas dívidas .Outro fato notório no que concerne ao papel principal,o de fiscalizar....PELO AMOR DE DEUS,QUAL A NOÇÃO QUE A MAIORiA DOS VEREADORES TEEM,SOBRE CONTAS PÚBLICAS,não sabem nem sobre crimes que incorrem sobre sua falta de responsabilidade,quanto a aprovação das mesmas...para tanto aponto uma solução,que no momento da aprovação das mesmas , seja contratada empresas de auditoria que realmente venha a respaldar o papel de fiscalizador,que assuma tal responsabilidade inexistente!
ResponderExcluirAuditoria nas contas públicas do Prefeito é uma boa pedida, sendo antes uma atribuição do próprio Legislativo, que pode SIM, contratar uma equipe técnica para realizar tal procedimento e o acompanhamento dos Vereadores. Mas, como não estamos na região sudeste e aqui no Maranhão e no Nordeste corre solto quase tudo, acho difícil acontecer em alguma cidade. Queremos ver a primeira.
ResponderExcluirComentários bastantes oportunos e interessantes sobre a matéria. Podemos observar que de uma maneira quase geral, nossos agentes políticos de representação nas Câmaras de Vereadores a nível de região e em boa parte do estado, a maioria vive somente de fazer política e não tem uma outra fonte de renda seja salarial ou comercial, empresarial ou outro setor que lhe dê a garantia de renda. então fica difícil quando não se tem a alternativa como também é difícil encontrar um empresário ou empregado que ganha mais de 4 salários que queira ser Vereador. Então essa é a realidade, infelizmente é assim.
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