Aldeia Bacurizinho recebe parentes de todas as regiões para comemorar a festa da Menina Moça.
Texto:
Sediverte Notícias:
Aldeia Bacurizinho realiza o Muquiado, a Festa da Menina Moça, tradição que representa o amadurecimento da mulher indígena.
Suluene Guajajara (Assistente Social da Casa de Saúde do Índio de Imperatriz – Casai):
“Para as mulheres indígenas essa é uma das festas mais importantes. A festa do Muquiado é a passagem da menina para moça, depois desta festa ela já esta preparada para casar e exercer outras funções que antes ela não exercia. O ritual em si é a nossa vida, é a nossa festa, a nossa dança, o nosso canto. Nossa festa dura à noite toda. Entra no mundo espiritual do povo Guajajara. Nós revitalizamos todos os momentos, todos os encantos. Todas as pessoas que já se foram, relembramos e revitalizamos, são as avós daquelas moças protegendo e festejando junto com elas essa passagem tão importante para nós. A cada festa, a cada pintura e a cada dança revitalizamos a nossa cultura e isso para nós tem um significado muito importante.”
Sediverte Notícias: Senhor Arão Marize Lopes, qual o significado e o que representa essa festa da Aldeia Bacurizinho?
Arão Marize Lopes (Líder Indígena): “Hoje estamos na Aldeia Bacurizinho comemorando uma das festividades vinculadas as nossas tradições culturais que é a festa do Muquiado, a Festa da Menina Moça. Esta festa vem sobrevivendo ao longo desses trezentos anos que o povo guajajara tem com a sociedade envolvente. Uma demonstração de que somos resistentes, pois mesmo mediante a este contato, mantemos nossas tradições. É uma agenda nossa de todos os anos no mês de setembro. Em função de outra situação que não permitiu que pudéssemos fazer em setembro, antecipamos essa festividade para o mês de julho. No próximo ano manteremos a agenda de setembro. Para nós esta festa é motivo de satisfação, pois envolve as nossas crianças, os adultos e os idosos. Este é um processo demorado, primeiramente as meninas passam por um período em que se tornam moças. Este ano contamos com 23 moças para realizar esse evento. Este ato aqui é de amadurecimento para que depois elas venham a ser mães e senhoras. Quando a jovem entra na “tocaia”, passa por um processo de reclusão, é sinal de que acorreu a primeira menstruação. Esse período pode durar até mesmo um ano, dependendo da programação. A mesma não pode realizar determinados atos que são normais no dia a dia, como por exemplo: comer determinadas caças, participar de determinadas festas. Ou seja, existe um conjunto de regras que ela não pode descumprir, senão ela não poderá participar desde momento que se esta efetivando hoje. Além da festa da Menina Moça, temos também a Festa do Mel e a dos Rapazes.
Sediverte Notícias: A evolução atrapalhou a cultura indígena?
Arão Marize Lopes (Líder Indígena): “O processo de evolução é natural, inclusive temos estratégias de defesa para que essa evolução não nos leve a enfrentar um processo de descaracterização cultural. Se perdermos nossa cultura, deixaremos de ser índios e mesmo assim não poderemos nos intitular como brancos.”
Sediverte Notícias: Quem implantou e como implantou o processo evolutivo da educação indígena na Aldeia Bacurizinho?
Arão Marize Lopes (Líder Indígena): “Através da FUNAI recebemos monitores bilíngues como Alderico Lopes, Pedro Joaquim Ribeiro, João Cassimiro da Silva (Madrugada), Milton Bento, José Lopes. A FUNAI deixou para nos essa conquista de termos instrutores bilíngues. Tive que sair daqui da minha terra aos 13 anos para estudar em Grajaú pelo fato de que o ensino fundamental não era completo na época, era somente aprender a ler e escrever. Hoje obtemos a conquista de termos um ensino fundamental completo e o ensino médio, também temos um curso técnico.”
Sediverte Notícias: Observamos a ausência da fartura de caça e pesca, o que esta ocasionando este problema?
Arão Marize Lopes (Líder Indígena): “Aqui estamos enfrentando um problema com os madeireiros, pois os mesmos vêm praticando ações criminosas. As instituições responsáveis por este tipo de assunto têm se calado perante a ele. Não temos mais caças em lugar algum e temos visto caçadores de Grajaú matando antas, veados, macacos e cutias em nossas matas. Será então necessária uma atitude tomada internamente para que possamos solucionar este problema. Existem também caçadores de outras regiões que vêm até aqui para caçar somente por esporte e isso vem prejudicando não somente aos animas, mas a nós também. Dependemos ainda dessa caça para sobreviver. Basicamente neste sentido, faço um trabalho de conscientização também no movimento indígena, mostrando os nossos direitos para que assim possamos obter êxito naquilo que procuramos.”
Sediverte Notícias: Como parlamentar, senhor se define como oposição ou situação?
Arão Marize Lopes (Líder Indígena-Vereador): “Tenho pautado minhas reclamações na Câmara, fazendo uma oposição necessária. Minhas cobranças são feitas de forma consciente, apresento também propostas viáveis para que aquele problema seja solucionado. Quando trabalhamos apenas apontando os erros é sinal de que não temos consciência do que queremos como parlamentar. Não precisamos bater ninguém para que o direito seja cumprido. Não podemos esquecer que também temos as nossas obrigações. O ser humano é dotado de direitos e obrigações.“
Sônia Guajajara (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib):
“Nós viemos participar da festa da Menina Moça, pois isso é o que fortalece a nossa cultura, a nossa identidade e que nos faz continuar sendo povo indígena. A nossa tradição é o que nos faz ser povo diferente. Sem a cultura deixamos de ser povo e passamos a ser população comum. Vemos muitos jovens utilizando muito da tecnologia, da internet, das redes sociais. Alguns utilizam as fotos só para mostrar, mas não vivenciam o que de fato interessa que é a realização dessa festa. Mas aos poucos crio que nós, indígenas, estamos conseguindo conciliar essa questão tecnológica com a cultura. Aos poucos as pessoas estão entendendo que se deixar de praticar a cultura, acabaremos enfraquecendo a tradição, enfraqueceremos o nosso povo. O movimento indígena hoje tem como principal papel lutar pela defesa dos direitos e dos direitos adquiridos. Hoje os direitos indígenas estão muito ameaçados por parte do poder publico, por parte do próprio Estado Brasileiro. Como há todo esse avanço, tanto tecnológico como o desenvolvimento econômico, nossa cultura muitas vezes é vista como uma cultura atrasada ou um povo que impede o desenvolvimento, por isso nos esforçamos tanto para continuar sendo povo indígena com esses direitos adquiridos e permanentes. Queremos apenas ter o direito de continuarmos sendo indígenas dentro deste país. O que me motiva a continuar nessa luta é ir em uma aldeia e ver que ainda tem tanta gente que depende de nós. Que dependem do nosso esforço para continuar lá onde estão, dentro da terra indígena. Se não houverem pessoas fazendo essa defesa, principalmente sobre a questão dos territórios, a qualquer momento eles podem perder o direito de estar lá na aldeia, de estar dentro de uma terra. Creio que aquele povo que esta dentro da aldeia é o que mais nos motiva a fazer essa luta, é por eles que fazemos isso.”
Texto: Se diverte
Aldeia Morro Branco realiza a “Festa do moqueado”.
O rito de passagem da festa da menina moça é uma tradição entre os Guajajaras e começa com a menstruação da menina por volta dos 12 anos de idade.
A festa deu-se ínicio no dia 22 de setembro e tem duração de 3 dias, na Aldeia Morro Branco que fica 1 km do perímetro urbano do município de Grajaú – MA.
O rito de passagem da festa da menina moça é uma tradição entre os Guajajaras e começa com a menstruação da menina por volta dos 12 anos de idade. Ela avisa a família e fica na "tocaia", reclusa por oito dias.
Depois disso, os mais velhos começam a cantoria, a menina sai correndo para tomar banho no rio e não pode cair, senão cairá na vida também.
A partir daí ela vai ralar macaxeira, fiar algodão, tecer e outras atividades caseiras permanecendo de resguardo por um ou dois anos sem comer carne até o dia de sua festa, quando finalmente assumirá sua vida como adulta.
Durante a festa, o moqueado é feito apenas de caça nativa e se não fizer a festa conforme a tradição dos mais antigos, os indígenas acreditam que aquela garota não terá um bom destino na vida.
A festa é uma prova de que os índios não perderam seus costumes.