“O poder não pode mais como nos velhos tempos”, reflete José Sarney em artigo
Da Coluna do Sarney
A
internet provocou uma mudança tão profunda na História da Humanidade
que ninguém pode prever suas consequências em termos de futuro. Ela não
só substitui a civilização industrial que Galbraith diz que duraria 500
anos, dos quais já consumimos 300, mas modificará nossa maneira de
pensar construída na lógica de causa e efeito.
Começa
pelo conceito de rede. Não há um centro gerador, ela se expande ao
tempo em que você ou qualquer pessoa se agrega a ela e se expande sem
limites e sem limitações. Nela pode dizer–se tudo, afirmar tudo,
contestar tudo e questionar tudo. Um fato pode ter infinidades de
versões e a verdade passa a ter tantas verdades que você não sabe onde
ela está.
Por outro lado o poder, que
era hegemônico, perde essa qualidade fundamental para ser dividido
entre todos que participam do mundo digital, que opinam, decidem e
vulneram qualquer decisão. Cria o pseudofato, como advertia McLuhan,
sobre a sociedade de comunicação.
As
novas gerações passam de uma civilização oral diretamente para uma
visual, não passando pelo livro como fonte de conhecimento. A Wikipédia é
a fonte de todas as sabedorias. Basta que através da internet se use
três ou quatro toques e imediatamente torna-se a mais culta das pessoas,
discorrendo sobre o assunto que se fala. A memorização passou a ser
desnecessária e os jovens estão descobrindo isso. Com o tempo será
difícil a sobrevivência do livro, embora ele, é meu pensamento, jamais
vá acabar.
No Fedro, de Platão, há
uma passagem em que o rei do Egito, quando lhe é comunicada a descoberta
da escrita, capaz de reter nomes, fatos, episódios, pensamentos,
pergunta ao deus Toth, que a criou: “O que será de nossas memórias? Ela
vai desaparecer e não poderemos mais guardar as coisas mais profundas e
sobre elas estabelecer nossas reflexões e dissertações”.
Mas,
hoje, o que está no auge das indagações são as consequências do mundo
digital sobre o poder. Desapareceu o tempo das potências hegemônicas e
do poder hegemônico. Hoje não existe mais o espaço da bipolaridade e o
mundo cria novos núcleos de poder que despontam aqui e ali e, embora
pequenos ou médios, inibem o poder maior.
Desse
modo, a juventude que passa o dia e a noite navegando vai transformando
o mundo, por sua vez já transformado. O poder não pode mais como nos
velhos tempos.
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